Retratos De Resistência - Flipbook - Page 13
O senso de ajuda comunitária dos
refugiados é algo admirável. Em Dharamsala, por exemplo, diversas ONGs
foram criadas para oferecer ajuda aos tibetanos: escolas de idiomas, centros de
apoio a tibetanos desempregados, a antigos prisioneiros políticos e a mulheres,
além de escolas exclusivamente tibetanas, monastérios, centros de recepção a
refugiados e por aí vai.
Porém, a trajetória não é nem um
pouco fácil e extremamente arriscada,
em alguns casos chega a durar meses.
O principal trajeto feito por eles passa
primeiramente pelo Nepal, pois a fronteira indiana é mais arriscada. Os refugiados têm que atravessar o Himalaia a
pé, durante a noite, levando muito pouco além de suas lembranças e muitos já
morreram de fome, frio ou foram pegos
pela polícia. Neste exato momento, enquanto você lê esse livro, mais tibetanos
estão caminhando pelas montanhas
em direção ao exílio. Os que conseguem
atravessar a fronteira costumam chegar
do outro lado em péssimo estado, precisando de cuidados médicos imediatos.
Mas então por que arriscar tudo dessa forma? Longe do exército chinês, os
refugiados podem continuar praticando
sua cultura sem o medo de serem torturados e/ou assassinados em consequência. Em Dharamsala, eles praticam o budismo, estudam tibetano e além disso
ainda estão perto do dalai-lama.
Acredito que seja injusto reduzir o
Tibete a números de mortos e refugiados. Não são somente os números - por
mais assombrosos que eles sejam - que
vão nos fazer apoiar sua luta. Para que
a sua dor seja entendida é necessário
conhecer as vivências pessoais desses
tibetanos. Para falar do Tibete, é necessário conhecer seu povo, ouvir sua voz.
Não somente os números de mortes,
mas também as histórias que os sobreviventes têm para contar. Os tibetanos
impressionam, acima de tudo, pela força de superação e compaixão que eles
carregam diariamente. E nós, ocidentais,
temos muito o que aprender com eles.
“As Montanhas de Buda” foi o livro
que me fez ir até Dharamsala ouvir dos
próprios refugiados as histórias que eles
têm sobre o Tibete. Voltei para contar,
pela voz deles, a história de um povo que
é minoria oprimida em seu próprio país
e que teve que deixar tudo para trás pela
busca da liberdade.