Retratos De Resistência - Flipbook - Page 41
“Eu vim para cá pela primeira vez em 1994, eu tinha 13 anos.
Em 2012 eu voltei ao Tibete para dar aula em um monastério, e
ano que vem eu quero voltar para lá de vez.
Em 1994 eu vim a pé pelo Himalaia, a minha família me mandou pois eles sabiam que se eu ficasse no Tibete eu não teria
uma boa educação.
Eu era muito novo, não tinha idéia do que estava acontecendo. A minha família tinha um amigo que na época tinha seus
20 e poucos anos. Ele era um monge e ele morava com o meu
tio no monastério. Esse monge trouxe eu e meu irmão, que era
um ano mais velho que eu. Ele nos colocou dentro de um caminhão e nos levou à Lhasa para que encontrássemos um guia
para atravessar a fronteira.
Encontramos um guia que organizava grupos de 26 pessoas.
Pagamos algo por volta de 200 dólares cada, o que na época, e
para nós, era muito dinheiro.
Então começamos a viagem de Lhasa para o Nepal. Nós tínhamos que carregar as nossas próprias roupas, comidas, e utensílios
para cozinhar. Eu e meu irmão éramos os mais novos do grupo e
o mais velho tinha em torno de 60 anos, o resto tinha uma média
de 30 anos. Nós estávamos todos com muito medo, havia muita
tensão no grupo, pois muitas pessoas são pegas pelos chineses,
e depois ninguém sabe o que acontece com elas, muitos são presos ou assassinados, e sofrem muito.
Nós não podíamos andar durante o dia, tínhamos que começar nossa jornada as 18h e durante o dia descansávamos. E também não podíamos usar tochas, pois se usássemos qualquer
coisa que emitisse luz os policiais nos veriam facilmente. Então
era muito escuro, não conseguíamos ver nada; éramos somente
nós e as montanhas.”