Federação Nacional dos Médicos - 25 de Abril - Flipbook - 23
µ 23 | FNAMZINE | abril 2024
Será que a próxima Ministra da Saúde vai ser capaz de negociar de forma séria
e competente para alcançar acordos capazes de atrair médicos para o SNS?
Quando a democracia que nos construiu o SNS celebra meio século, somos
obrigados a começar aí. Haverá, por parte do próximo Governo, vontade
política para resolver o problema da falta de médicos do SNS, e de responder
às suas necessidades? O próximo Governo será capaz de reverter o quadro
de destruição testemunhado no SNS, sobretudo nas últimas duas décadas?
Será desta que o SNS vai deixar de ser suborçamentado, passando a
contemplar a valorização dos médicos e demais profissionais? Até novembro
de 2023, apenas 34% dos 753 milhões de euros previstos para investimento
no SNS foram executados. Irá passar a haver a execução fundamental na
reabilitação, ampliação e construção das Unidades de Saúde, e dotá-las dos
recursos necessários, humanos e materiais? Será que 17 em cada 100 utentes
vão continuar sem médico de família, as consultas e cirurgias atrasadas, e a
faltar macas nos serviços de urgência ou camas nos internamentos?
Será que a próxima Ministro da Saúde vai ser capaz de negociar de forma
séria e competente para alcançar acordos capazes de atrair médicos para o
SNS? Que permitam recuperar o poder de compra perdido na última década
e deixarmos de ser dos médicos com salários mais baixos da Europa?
Será que vamos conseguir conciliar a vida profissional e pessoal, com uma
jornada diária que não ultrapasse o previsto nas diretivas europeias?
Para que não trabalhemos mais quatro meses por ano que o resto dos
profissionais? Vamos conseguir salvaguardar o descanso compensatório
depois de uma noite de serviço? Recuperar os dias de férias retirados ao
longo dos anos? Progredir condignamente na nossa carreira e assegurar
uma formação de qualidade aos nossos médicos internos, integrando-os
na mesma? E procedermos à eleição interpares de cargos de
direção ou coordenação baseada em processos
transparentes e democráticos?
São perguntas simples, cujas respostas os médicos querem ouvir para saber
se têm condições para ficar ou voltar ao SNS. Ou será que os governantes vão
continuar a assistir, impávidos e serenos, à sangria de médicos para o sector
privado, prestação de serviço e estrangeiro?
Vai o próximo Governo ser sensível ao que dizem os médicos ou vai preferir o
caminho fácil dos lugares-comuns, onde as declarações de amor ao SNS são
poucas vezes sinónimo de um programa efetivo para o salvar?
Os médicos já deixaram claro que vão manter a luta pela sua profissão e pelo
SNS. Além disso, vão continuar a cumprir com o dever de não exceder o limite
legal das 150 horas suplementares por ano e rapidamente se verá que o SNS
continua a funcionar no limite da sua capacidade.
Sendo isso claro, será o próximo Governo capaz de encetar uma negociação
com os médicos, à primeira hora do seu mandato, para evitar o cenário que
se viveu em 2023, expondo a segurança de médicos e utentes?
Por isso visamos os partidos que foram a votos a clarificar o que pensam
para a Saúde e o que pretendem fazer. Não por via de discursos demagógicos,
mas através da apresentação de soluções concretas para defender a carreira
médica e o SNS.
JOANA BORDALO E SÁ, Presidente da FNAM
Publicado originalmente no Expresso de 12 de janeiro de 2024
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