Journal Potuguese Release - February 2024 - Flipbook - Page 53
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tomou a iniciativa e rapidamente os dois viram-se sentados no chão, às voltas
com papel, pincéis, tinta e entusiasmo. Enquanto planejavam o que seria
desenhado, uma conversa diferente tomou lugar; novos vocabulários brotaram
de uma relação mãe - filho agora muito mais colaborativa: “É monstro ou
fantasma? É bem grande, então precisa de um papel maior. Tem uma saia; e
muitos dentes na boca; o cabelo é espetado”; Daniel passou a vislumbrar a foto
do problema: “Mãe, o monstro vai ser vermelho, porque vermelho é a cor da
raiva”. O menino encorajado pela mudança de direção da conversa, ocupou-se
em colori-lo com esmero e a mãe pacientemente o acompanhava na dança dos
pincéis. É como fotografar com tintas e pinceladas e o problema ganha
materialidade: “Puxa! Ficou legal! Mãe, tem cara de mau!”
“Fantasma da Fúria.”
Satisfeitos com a produção, Daniel diz: “É um gigante da Fúria que atormenta
muito, ataca a cabeça, fica batendo.” O recorte a seguir ilustra as conversas que
vão sendo tecidas em torno do problema externalizado (as siglas T, D e A,
referem-se respectivamente à: Terapeuta, Daniel e Aurora):
T: Acho que ele tem uma britadeira nas mãos e faz furos na sua cabeça, pra
entrar! (Pinto uma ferramenta nas mãos do gigante). A gente poderia
inventar alguma coisa pra te avisar quando ele está ligando a britadeira?
(Pinto um radar que diz “Não”, quando percebe que o gigante está se
aproximando)
D: Não… ele passa pela cabeça...É uma fantasma.
Os Maus e os Bons Fantasmas: Uma História de Reautoria em Terapia Narrativa com Criança
Journal of Contemporary Narrative Therapy, February 2024 Release, www.journalnft.com, p. 4770.