Journal Potuguese Release - February 2024 - Flipbook - Page 56
55
“desenvolver uma exposição da corrupção associada com abusos de poder e
privilégios” (White, 2012, p. 38) ditados pelo problema. Assim como os jornalistas
investigativos, os terapeutas não estão envolvidos com os domínios de resolução
de problemas ou com o engajamento no conflito, mas “ao contrário, suas ações
normalmente refletem um envolvimento relativamente ‘sereno’” (White, 2012, p.
38). Em contrapartida, os clientes igualmente assumem uma posição de repórter
investigativo, refletem sobre a sua experiência e contribuem para a exposição do
caráter do problema. Denunciam seus objetivos, propósitos e atividades.
Essa postura revela a importância do descentramento do terapeuta narrativo e
prepara o caminho para que eles (os clientes) identifiquem e construam outros
planos para suas vidas, aquilo que valorizam e contradizem as vozes ameaçadoras
do problema. Em outras palavras, as conversas de externalização oferecem uma
ilha de segurança compartilhada para que as pessoas se engajem na reautoria de
suas vidas.
Uma Crônica Sobre o Problema Externalizado, Inspirada na Ideia de
Documentos Poéticos
Para White e Epston (1990), a palavra escrita é uma via ideal para as descobertas
realizadas durante a terapia que, como os documentos, podem ser evocados,
lidos e recriados. A tradição escrita, através do “fazer ver” põe em evidência os
acontecimentos extraordinários, conferindo prestígio a uma narrativa alternativa
que se quer iluminar (César, 2008). Ainda, segundo Campillo Rodriguez (2011), a
escrita como recurso terapêutico abre muitos caminhos através dos quais a
pessoa pode enxergar-se a si mesma através dos olhos do outro.
Durante os atendimentos clínicos, os poemas terapêuticos constroem, de forma
especial, uma abertura para histórias inéditas, que joga com a imaginação e traz
aos clientes a liberdade de experimentar suas próprias imagens, sensações e
novos significados. Discorrendo sobre a utilidade dos poemas terapêuticos em
seu trabalho, Sanni Paljakka (2018) escreve:
Devido à sua forma pouco convencional (a falta de exigências para chegar à
brilhante plenitude de sentenças e ideias de texto em prosa) esses poemas
abriram um caminho singular para que eu brinque com as ideias. Escrever
na forma poética me permite contrapor as histórias dos problemas,
horríveis e aterrorizantes, com a confecção de ideias de uma contraOs Maus e os Bons Fantasmas: Uma História de Reautoria em Terapia Narrativa com Criança
Journal of Contemporary Narrative Therapy, February 2024 Release, www.journalnft.com, p. 4770.