Journal Potuguese Release - February 2024 - Flipbook - Page 13
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Terapia Narrative no Brasil: Construindo História Preferidas de Norte a Sul
Marilene A. Grandesso
Contextualizando: Uma Porta de Entrada
O que apresento neste artigo é apenas uma história possível. Sabemos que
nenhuma história é única e, menos ainda, completa. Esta, como toda narrativa,
foi construída por minha seleção de eventos no tempo, nos contextos em que tive
a oportunidade de viver e aprender. O fio que tece esta linha de história é muito
pessoal e tem as marcas dos significados que atribuí à experiência vivida, desde os
anos 90. Assim, fossem outros os autores, outras histórias seriam possíveis. Como
a vida, a Terapia Narrativa no Brasil também é multihistoriada.
Quando Tom Carlson me convidou para escrever sobre a Terapia Narrativa (TN)
no Brasil com foco na terapia, honrada pela confiança, senti um misto de alegria e
uma imensa responsabilidade. Como fazer jus a esta prática e aos terapeutas
brasileiros que a desenvolvem e enriquecem com criatividade latina? Nascida no
início dos anos 2000, a TN cresceu, floresceu e vem se transformando, desde a
presença de Michael White e David Epston em território brasileiro.
Primeiramente por seus escritos, aos quais tínhamos acesso apenas em inglês e,
às vezes, em espanhol. Depois, pelo nosso espírito de mercadores ambulantes
que nos convidava a ir ao encontro das oportunidades que surgiam, ainda que em
outros países. Este artigo tem as marcas de meu envolvimento pessoal com essa
prática, desde que, em 1991, Carlos Sluzki, num curso de terapia familiar em
Massachussetts, apresentou Michael White como um jovem criativo que fazia da
terapia uma espécie de exorcismo psicológico. Sluzki estava se referindo à prática
das conversações externalizadoras, que separa a pessoa e o problema: o
problema é o problema, a pessoa é a pessoa. Para nós brasileiros, na época, uma
grande novidade.
Assim, não foi surpreendente que estivéssemos pela primeira vez com Michael
White em Buenos Aires (Argentina), quando a Fundação Interfas organizou, em
1992, quatro dias de workshop com ele. Numa pequena sala da Fundação, o
encantamento se apossou de nós brasileiras, em torno de umas 15 pessoas. A
mim particularmente, o que mais me tocou foi uma apresentação que Michael fez
de um atendimento de um homem que vivia há muitos anos num hospital
psiquiátrico e tinha acabado de tentar o suicídio. Sua história de desesperança
Editors’ Note
Journal of Contemporary Narrative Therapy, February 2024 Release
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