Journal Potuguese Release - February 2024 - Flipbook - Page 49
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que contrariado por ela, quando um abundante fluxo de raiva, acusações e
insatisfações surgia por parte dele e a paralisava. Trata-se de conversações
terapêuticas ocorridas durante o ano de 2020, as quais foram atravessadas pelo
advento da pandemia instalada pela COVID-19 e traz como desafio, a criação de
recursos para a manutenção do processo terapêutico.
No diálogo com o leitor pretendo relatar fragmentos da prática, buscando dar
visibilidade: 1) às conversas de externalização como recurso dialógico lúdico e
promotor de mudanças preferíveis; 2) à produção de documentos terapêuticos
no formato de crônicas terapêuticas (Campillo Rodriguez, 2011; Paljakka, 2008),
um recurso útil para pontuar momentos marcantes no processo de reautoria dos
participantes; 3) e compartilhar momentos em que o uso da tecnologia on-line
auxiliou a co-construção de relações terapêuticas generativas, possibilitando
seguir adiante no processo conversacional.
Conversando com Alguns Amigos Textuais Antes de Entrar na Sala de Terapia
Michael White (2012), a despeito da expressiva capacidade de sistematização do
conjunto de sua obra, privilegiava os desdobramentos de seu trabalho de forma
que o espírito da terapia narrativa fosse expandido, sem deixar-se amarrar por
qualquer discurso preponderante desta ou daquela escola terapêutica. David
Epston, ecoando essa pluralidade de sentidos na terapia narrativa, aponta por um
lado, a irreverência, a improvisação e a imaginação presentes no centro da vida
cotidiana e, por outro, a indignação com a injustiça geradora de sofrimento
humano (2019). Assim, a terapia narrativa questiona ativamente a centralização
individual dos problemas humanos e convida a pensar sobre sua inserção nos
discursos sociais dominantes que configuram a vida das pessoas.
Como uma postura terapêutica, esse questionamento promove uma relação
igualitária entre terapeuta e cliente e nega normatizações que submetam as
pessoas a padrões de como deveriam ser, sentir e agir. Tal descentramento do
terapeuta facilita uma construção conjunta das escolhas que os clientes desejam
assumir sobre seus problemas e dificuldades, baseados nos valores e crenças que
norteiam suas vidas. Assim, a mudança se constrói a partir de novos significados
compartilhados em direção à dissolução do problema, como sugerem Anderson e
Goolishian (1988).
Os Maus e os Bons Fantasmas: Uma História de Reautoria em Terapia Narrativa com Criança
Journal of Contemporary Narrative Therapy, February 2024 Release, www.journalnft.com, p. 4770.